Moçambique/Save the Children: Surto de Violência em Moçambique Espevita Recorde de 200 milhões de Crianças em Zonas Letais do Mundo

A Save the Children revela, em seu sexto relatório publicado recentemente, que o surto de violência em Moçambique contribui na subida para um recorde de quase 20 por centro do numero de crianças que vivem nas zonas mais mortíferas do Mundo.

Segundo o relatório da Save the Children, um número recorde de quase 200 milhões de crianças vive nas zonas de guerra mais letais do mundo, muitas das quais estão igualmente em risco de mudanças climáticas e a enfrentar níveis de fome sem precedentes.

Save the Children hires Mother ahead of centenary
Fonte: Save the Shildren

O sexto relatório da Save the Children examina as tendências de conflito para crianças e constata que o número de pessoas que vive no seio de conflitos letais em 13 países aumentou quase 20% em 2020, de 162 milhões um ano antes, mostrando que a pandemia global e o apelo das Nações Unidas para um cessar-fogo global não foram o suficiente para parar essas guerras.

Este aumento acentuado foi impulsionado em parte por surtos de violência em Moçambique, bem como conflitos em curso no Afeganistão, na RDC, na Nigéria e no Iémen, que já estão na linha de frente dos piores impactos das mudanças climáticas e ainda a lidar com crises de fome que ameaçam a vida.

O relatório “Parar a Guerra contra as Crianças: Uma Crise de Recrutamento”, também revela que 337 milhões de crianças viviam perto de grupos armados e forças governamentais que recrutam crianças, um aumento de três vezes em relação há três décadas atrás (99 milhões em 1990). O número de países onde as crianças são recrutadas – e onde mais da metade das crianças do mundo (quase 1,3 bilião) vive – também saltou para 39, o maior em 30 anos.

Fonte: Save the Children

De acordo com a nova análise, Afeganistão, Síria, Iémen, Filipinas e Iraque têm a maior percentagem de crianças que vive perto de um grupo armado ou força que recruta crianças, deixando-as em maior risco de recrutamento.

A pobreza e a impossibilidade de frequentar a escola – factores que só pioraram com a pandemia – estão entre os motivos pelos quais as crianças são mais vulneráveis ao recrutamento por grupos e forças armadas, onde suas funções podem variar de lutar na linha de frente a guarnecer postos de controlo. Muitos também são atraídos por esses grupos em busca de um sentimento de pertença, protecção contra abusos, status ou vingança.

Embora as meninas representassem apenas 15% dos casos de recrutamento relatados pela ONU em 2020, elas costumam ser visadas para actuar como espiãs, colocar minas e artefactos explosivos improvisados ou actuar como “homens-bomba” porque têm menos probabilidade de chamar a atenção. Sua vulnerabilidade, baixo status e género também as tornam susceptíveis a abusos generalizados.

As crianças usadas por grupos e forças armadas correm maior risco de lesões, incapacidades, doenças físicas ou mentais crónicas, Doença de Estresse Pós-traumático, violência sexual e morte.

“Estávamos a nadar no rio quando um grupo de pessoas nos levaram à força para a floresta. Eles nos torturaram, nos espancaram e nos ensinaram como matar e sequestrar pessoas. Sofremos muito”, disse Jean*, 17 anos, que foi forçado a se juntar a uma força armada na República Democrática do Congo antes de ser resgatado pela organização parceira de Save the Children, KUA. “Quando eu estava na floresta, me sentia muito mal. Eu estava muito assustado. Minha vida foi difícil”, lê-se no Relatório.

Inger Ashing, direktör - Delmos

Para Inger Ashing, Directora Global da Save the Children International, disse, citado pela mesma fonte que “é simplesmente horrível que à sombra da COVID-19 e do apelo da ONU por um cessar-fogo global, mais crianças do que nunca foram apanhadas na mira das zonas de guerra mais mortíferas – onde já enfrentam mais secas, inundações e fome – e com maior probabilidade de serem feridas, recrutadas ou mortas. Nem mesmo uma pandemia global foi suficiente para impedir as guerras e atrocidades mais brutais’’.

Num outro desenvolvimento, Ashing revelou que “milhões de crianças não conheceram nada além de guerras com consequências terríveis para a sua saúde mental, capacidade de ir à escola ou acesso a serviços que salvam vidas. Isso é uma mancha na comunidade internacional e não pode continuar.

“Sabemos que podemos enfrentar os maiores desafios do nosso tempo e alcançar um progresso notável quando trabalhamos juntos, como o recente desenvolvimento das vacinas COVID. Agora temos que fazer o mesmo para proteger as crianças dos horrores de conflitos.”

O relatório também revela que mais de 450 milhões de crianças em todo o mundo – ou 1 em cada 6 – viviam em uma zona de conflito, um aumento de 5% em relação a 2019 e o maior número em 20 anos. O número de conflitos em 2020 foi idêntico ao de 2019.

Por outro lado, a fonte revela que ‘’o número de grupos armados que recrutam crianças aumentou durante a pandemia para 110, em comparação com 85 em 2019’’.

‘’A ONU verificou quase 8,600 casos de recrutamento e uso de crianças em 2020 – cerca de 25 por dia – apesar da pandemia global, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Esses números, entretanto, provavelmente representam apenas uma fracção dos casos reais’’, lê-se ainda no relatório.

Entrevistas com 40 trabalhadores da Save the Children em 14 países e regiões sobre a situação das crianças revelaram publicadas no relatório indicam que ‘’muitas crianças conheceram apenas conflitos, com sérios impactos em sua saúde mental; as crianças em conflito suportam o impacto das economias enfraquecidas ou em colapso e da falta de acesso aos serviços básicos, que só piorou com a COVID-19; raramente alguém é responsabilizado por atrocidades cometidas contra crianças; e o acesso à educação – muitas vezes uma das primeiras casualidades da guerra – é igualmente crítico para proteger as crianças dos riscos relacionados com o conflito, como o recrutamento forçado’’.

Entre suas recomendações, a Save the Children chama os líderes mundiais, especialistas em segurança, doadores, membros da ONU e ONGs a trabalharem juntos para responsabilizar os perpetradores dessas violações, para garantir que todas as políticas e estruturas jurídicas relevantes sejam ratificadas e implementadas, e garantir que os doadores e governos priorizem o financiamento da protecção da criança em respostas humanitárias – que está num nível baixo – para apoiar as crianças afectadas por conflitos, incluindo aquelas que são recrutadas.

(AIM)

JSA