Moçambique/Dividas Ocultas: Declarante Neusa Matos Confirma Ter Receido USD600 mil da Privinvest

A declarante Neusa Matos, antiga conselheira jurídica do ex-Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, admitiu Quinta-feira (25/11), em tribunal, ter recebido USD600 mil dólares transferidos pelo grupo Privinvest, empresa envolvida no escândalo das “dividas ocultas”, que lesaram o Estado moçambicano em mais de 2, 2 mil milhões de dólares americanos.

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Neusa Matos, Declarante

Matos explicou ter recebido referido valor na sequência de um acordo de venda do seu imóvel, situado na capital do país, ao réu Renato Matusse, ex-conselheiro político de Guebuza, no valor de 450 mil dólares.

Por instrução do réu Renato Matusse, a Privinvest transferiu 300 mil dólares, para conta bancária da declarante Neusa de Matos, em Moçambique, e um montante igual para outra conta da declarante domiciliada em Portugal.

Na altura, segundo a declarante, em vez de o réu Renato Matusse transferir apenas o montante acordado para a venda do imóvel, ficou surpresa quando verificou que tinha recebido na sua conta em Portugal, 150 mil dólares a mais, facto que lhe criou certo desconforto e, por isso, decidiu aproximar-se do seu colega para perceber os motivos do acréscimo ao valor inicialmente acordado.

“Quando me apercebi do assunto, procurei o borderoux do banco e foi quando me apercebi que houve uma situação anómala, porque haviam sido transferidos para a minha conta cerca de 150 mil dólares a mais, daí procurei o meu colega e ele mandou-me aguardar alguns dias e depois iria dizer-me como proceder”, disse a declarante.

O tribunal questionou a declarante, em que momento teria informado ao réu Renato Matusse, sobre a sua intenção de vender o imóvel, tendo respondido que a informação chegou ao réu através de um agente imobiliário.

“Eu nunca disse ao meu colega que tinha um apartamento a venda. Na Presidência da República eramos uma equipa, mas não eramos amigos, não tínhamos conversas pessoais, nós nem chegamos a desenvolver alguma relação de amizade, só nos encontrávamos uma vez por semana no Consultivo (reuniões) ‘, explicou.

A fonte disse ainda que depois de saber a identidade do comprador, passou a discutir directamente com ele sobre as modalidades de pagamento. Na altura, segundo a declarante, nunca pensou em questionar sobre a origem do dinheiro porque partiu do pressuposto que todas operações bancárias são lícitas.

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Renato Matusse

Durante as negociações, Matusse teria dito a declarante que ia receber da editora Macmillan, direito autorais das obras por si escritas, por isso sugeriu que os pagamentos fossem feitos em contas tituladas no estrangeiro.

“Ele fez questão de me dizer que tem dinheiro fora do país, e com o que nós ganhamos em Moçambique ele não tinha dinheiro em meticais para pagar a compra da casa. Foi quando me informou que ia receber de uma editora em Londres, na Inglaterra, valores em moeda estrangeira para pagar a casa”, afirmou.

Depois de muita insistência, a declarante disse ter cedido e aceitou receber parte do valor no estrangeiro e outra parte em Moçambique.

Consta no despacho de acusação do Ministério Público (MP) que Matusse recebeu móveis e imóveis na ordem de 1,66 milhão de dólares americanos provenientes de subornos do grupo Privinvest.

Renato Matusse, 63 anos de idade, é acusado de cometimento de crimes de peculato, tráfico de influência, e branqueamento de capitais.
(AIM)
LW/SG/JSA