Por: Rosa Inguane, da AIM, em Nampula
“Eu Sou E. S. tenho 53 anos de idade e fui recrutado para a RENAMO em 1983, venho da base de Namilasse,(Murrupula). Hoje, quero ir para casa, agora tenho dez filhos, nenhum deles estuda, meu plano é refazer a minha vida e da minha família”. Este foi o manifesto de um homem de cerca de 1,70 metros de altura, aparentemente muito mais velho que os 53 anos que apregoa, franzino, olhar triste e cansado, um dos 40 antigos guerrilheiros da RENAMO, que nesta terça-feira (23/11), entraram no programa de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração, o DDR. Entre eles não consta a presença de nenhuma mulher.

O palco dos acontecimentos foi a zona do posto administrativo de Cazuzo, nao muito distante da base da Renamo, conhecida como “Namaíta”, no distrito de Murrupula, no arranque do DDR na nortenha província moçambicana de Nampula.
Com duração prevista para mais 20 dias, neste processo, serão desmobilizados, desarmados e reintegrados 588 antigos combatentes da Renamo, provenientes de todas as suas bases na província de Nampula. A AIM ouviu alguns deles, nomeadamente E.S., A. V. E e V. P.
E.S., considerado em cima, continua a desfiar a sua história para a AIM, nos seguintes termos. “Minha esposa e meus oito filhos estão lá na vila em Murrupula, dos mais velhos aos mais pequenos, nenhum deles estuda, porque eu não estava presente. O que quero agora é reconstruir a minha casa, fazer a minha machamba, porque tenho um espaço para isso”.
A.V não sabe dizer a idade, mas apenas que nasceu no ano de 1964. “Eu estou pronto para a paz, quero a paz. Estão em casa à minha espera, na vila, minha esposa e meus oito filhos, os dois mais velhos são rapazes e as restantes seis meninas pequenas. Meu desejo é fazer machamba, criar animais. Guerra para mim chega, nunca mais”, assim se pronunciou, ajeitando a sua máscara de pano nova que o protegia contra a Covid-19.
Noutro sentido V. P. contou que ostenta a patente de tenente-coronel na Renamo, ter 55 anos de idade, solteiro, mas pai de dez filhos e, o seu desejo é ser polícia. “ Sou tenente-coronel, voltei à base regional de Namaíta, mas actuei um pouco por todo o país, tenho energia e gostaria de ingressar na Policia da República de Moçambique. Tenho dez filhos, mas sou solteiro, espero encontrar uma companheira num futuro breve”, contou.
Estas são outras histórias que a AIM ouviu na manhã desta terça-feira (23/11), enquanto decorriam os trâmites legais do regresso à vida civil dos primeiros 40 antigos combatentes da Renamo na província de Nampula, no âmbito do DDR, debaixo de um sol abrasador, no centro de acomodação criado pelas autoridades para esse efeito.
O Secretário-Geral da RENAMO, André Magibire, que testemunhou os factos, disse ser relevante o compromisso do Presidente do seu partido, Ossufo Momade, em trilhar o caminho da paz e reconciliação nacional.

“Aos combatentes que hoje passam para a vida civil desejamos sucessos, bom trabalho e boa sorte nas vossas comunidades”, disse Magibire, para de depois acrescentar “apelar ao representante enviado especial das Nações Unidas, embaixador Mirko Mazzoni, no sentido de trabalhar, de forma célere, para que as pensões dos combatentes sejam fixadas. Sabemos que esta é a responsabilidade do governo, citamo-lo como representante do grupo de contacto”.
Magibire deixou ainda um pedido no sentido de as autoridades e comunidades acolherem os combatentes da Renamo da melhor forma, que sejam tratados com respeito e dignidade e também “nos termos dos acordos, que lhe sejam atribuídos terrenos para construírem as suas residências”.

Por seu turno o Secretário de Estado para Nampula, Mety Gondola, que presidiu a cerimónia, destacou o papel desempenhado pelo Presidente da República, por ter tido a clarividência de abrir linhas de diálogo formais e informais no sentido de garantir a paz em Moçambique.
“ Neste momento especial uma saudação também aos nossos parceiros que permitiram que hoje, como país, abríssemos uma nova etapa que relança a esperança e a expectativa de construir um Moçambique que seja abrilhantado com um futuro risonho para todos”, afirmou Gondola.
O governante deixou recomendações a equipa de trabalho do Grupo Técnico Conjunto do DDR para trabalharem com afinco para quero processo tenha o final desejado.
Chamou a atenção igualmente aos governos locais e líderes comunitários a permanecerem atentos e vigilantes para que as expectativas de todos os envolvidos não sejam frustradas. (AIM)
RI/JSA