O RÉU Teófilo Nhangumele justificou ontem, em sede do tribunal que julga o caso das dívidas não declaradas, ter usado mais de metade dos 8,5 milhões de dólares que recebeu da Privinvest na aquisição de imóveis, viaturas, em investimentos e viagens.
Nhangumele disse ter comprado duas residências num condomíniolocalizado nacidade daMatola, duas “flats” na cidade de Maputo, viaturas para a esposa e filhas, bens perecíveis, para além de ter realizado alguns investimentos dentro e fora do país. Igualmente,segundo indicou,efectuou pagamento de despesas correntes, pagou150 mil dólares por uma firmaeadquiriu um imóvel em Nelspruit, África do Sul. Neste país vizinho comprou ainda uma vivenda de um pisoe abriu uma conta bancária no FNB de onde ordenou uma transferência bancária de 500 mil dólares.
Explicouque o pagamento dos imóveis do condomínio da Matola foi feito na Turquia, sede da empresa imobiliária, através de uma transferência bancáriaa partir de uma conta sua num dos bancos de Abu Dhabi.
Ainda na audiência, o réu confirmouter dividido a quantia de 50 milhões de dólares disponibilizados pela Privinvestcom os co-réus Armando Ndambi Guebuza e Bruno Langa.A ele eLanga coube a quantia igual de 8,5 milhões de dólares e a NdambiGuebuzaos restantes 33 milhões de dólares.
Teófilo Nhangumele justificou o recebimento dosvalorescomo contrapartida da alegada consultoriaque fez àPrivinvest, com a qual detinha um contrato deconsultoria. Quanto aNdambi Guebuza, o réuexplicouque este não possuía nenhumcontratocom a Privinvest devido aconflitos de interesse, em razão de serfilho doentãoPresidente da RepúblicaArmando Guebuza.Todavia, alegou que NdambiGuebuzarecebeu os33 milhões de dólares por conta de uma empresa designada Abu Dabi Moçambique, da qual seria sócio, bem comopelo papel exercido ao ter falado com o pai, na altura Presidente, nosentido de viabilizar o projecto.
Explicou que a referida empresa moçambicana, que seria braço da Privinvest, na qual trabalhava Jean Boustani, iria ser de natureza privada e com vocação para a manutenção dos equipamentos que seriam adquiridos para o projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva.
“O pagamento era uma maneira de demonstrar o cavalheirismo pelo trabalho que essas pessoas fizeram. Solicitei, da parte moçambicana, o pagamento de 500 mil dólares pelo trabalho de estudo de viabilidade, facto que até hoje ainda não aconteceu”,justificou Nhangumele.
Na audição, apontou o co-réu António Carlos do Rosário como tendo sido a pessoa que esteve a representar as autoridades moçambicanos nas negociações com a Privinvest para a aprovação e obtenção do financiamento para o projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva.
Teófilo Nhangumele afirmou que foi nessa qualidade que António Carlos do Rosário, quadrosuperiordo Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE)e antigo presidente da empresa EMATUM, chefiou uma delegação moçambicana para aAlemanha e a Abu Dhabi para visitar e apreciar os equipamentos nos estaleiros da Privinvest, que seriam adquiridos para o projecto. Para além de António do Rosário, o réuNhangumele contou que fizeram parte da comitiva Armando Ndambi Guebuza e Bruno Langa, porém,a título privado.
Não soube dizer quem teria autorizado as viagens, assim como quem terá definido a composiçãodos viajantes emuito menos o papel de Ndambi Guebuza e Bruno Langa na deslocação. Apenas soube dizer que Ndambi e Bruno são amigos.
“Apenas foi-me incumbida a missão de levar a parte moçambicana para ir conhecer a Privinvest porque António Carlos do Rosário não tinha nenhum contacto e nem conhecia a empresa. Não sei de quem foi essa autorização, mas recebi a missão deCipriano Mutota, o primeiro réu a ser ouvido no julgamento iniciado na segunda-feira. Igualmente, não sei a que título foram Ndambi e Bruno, etambém não sei quem os incluiu na comitiva”, disse.
Disse ainda ter ouvido de Jean Boustani que Isaltina Lucas, antiga directora do Tesouro, recebeuum milhão de dólares.
Entretanto, Nhangumele volta a ser ouvido hoje, pelo terceiro dia consecutivo